Entrevista – Natinho – Invenção Brasileira 30 anos

|< VOLTAR PARA LISTA DE ENTREVISTADOS

Transcrição da entrevista com Natinho para o Projeto Invenção Brasileira 30 anos

024

meu nome é raimundo nonato cavalcante alves.

meu apelido é natinho,

pq sempre foi dos nonatos, cheguei aqui em 1970

tenho copas pra caralho do df

 

trabalhei em monte de coisas, saca?

depois descobri a arte, fiz música, teatro, poesia, ..

mas aqui no mercado sul, foi um veio, era um veio na época..

já em 70.. eu transito aqui na virada de 70.

 

eu entrei hoje na rua errada, tinha uma igreja,

mas não…

 

engraçado… com é cíclico… pq no passado, isso aqui foi mutantes, tocou aqui… mutantes.

os bailes mais foda da cidade, eu tive a felicidade de ter meu irmão instalado, aqui,

a caverna, era o lugar mais tentador…

hj eu cheguei ali,

os meninos ali, fumando maconha,

mas naquela época, com um ditadura nas cosas

 

0230

agora, você ve ali, esse peso de transgressão cultural,

os bailes..

e aqui tinha esses comércios bem recentes, mas tinha muita vida.

e a sorveteria do meu irmão, em cima, tinha esse lugar que era bem cultural,

adolescente ouvindo jimmy hendrix.

 

era um tráfico de cultura.. eu vinha lá da comercial com os discos embaixo do braço, com os belchior pr atrocar com os santanas que ele tinha aqui.

 

0330

depois descobri que meu irmão, aqui, no mercado sul

eu pintava camisetas a mão… ficava bontia…. várias técnicas… mas demorava pra caralho

 

e meu irmão já praticava a fotografia, desde pequeno.

e a serigrafia, praticava a serigrafia também.

era perigoso, ele fazia camisetas do  cheguevara, do badenmeinhoff, antes do renato russo… aí…

 

01

fala sobre serigrafia e a volta ao mercado sul

0350

galeras na rua, plantas… manter mobilização, senão vão passar por cima, destruir skatepark.. genocídio…

‘voce tem seus filhos e não pode levar eles pra patinar lá’

no recanto, dobrou o skatepark… melhorou..

 

0550

estudava no eit… onde forjou uma porrada de gente em taguatinga

criou gremios, ueta, união de estudantes de taguatinga… foi horrível,  fez stencil,

0700

fudeu, professor militar, deu dura.. repressão

 

0800

o que mobiliou essa galera foi o curso de teatro, que veio do rio, hpapanatas, deu um curso intensivo de uma semana, pegou as pessoas mais problemas…

a professora de portugues foi me falar, raimundo… vai ser dispensado da aula!!

foi, era o paraíso, pegou varias pessoas do colégio que tinha inclinação…

várias galeras da eit,

aí, chegou chico simões… caralho, o cara tinha experiencia do sesi!

 

mas era todo dia…

0930

e o marcelo ..bianco… do elenco da globo, ele sempre aparece, não faz papel principal…

ele sempre falava assim, desde o primeiro do curso: hoje faltam 6 dias… e 13 horas…

no outro dia, hoje faltam 4 dias e nanana… aquilo era a preparação pro espetáculo que a gente ia apresentar…

emocionante.

era tudo pra se constituir o espetáculo, naturalmente consequente pra isso.

e o que ele falava foi até as consequencias.. no camarim.. faltam 4 horas…

depois, faltam 3 minutos!

depois, explodiu!!

tinha o miqueias, a carme lucia, eu, o pepe, miltinho, puta, tinha muita gente, aquilo explodiu, tanto que quando acabou… todo mundo queria continuar.

 

002

várias excessões, o chico se aproximou…

mesmo essa peça que apresentamos…  a gente apresentou em várias satélites, com o onibus levando, aquilo solidificou nossa relação.

depois fizemos uma satélite fora de órbita… foi um link muito importante da minha vida,

fomos apresentar num festival de teatro em recife… foda!

eu pela primeira vez, num trecho da peça, naquela época se fazia muita pixação poética… como a peça refletia taguatinga, eu fazia que pixava declamando a poesia e outra pessoa ficava fazendo barulho do spray

funcionava!

a poesia que eu apresentei no recife,

a minha dor nã é a dor dela,

a minha dor é doriana e a dor dela é dorela

 

e todo mundo hahaha

e no final do espetáculo as meninas vinham com caderno ‘anota pra mim’…

0200

depois de muito tempo, o dj dolores por vias do gersinho, que é meu parceiro musical, o dj grava a dorela.

e foi o unico cara … que distribui música pra uma galera.. ninguém cuidou e teve o cuidade de dar o registro… eu sou muito maloqueiro, não vou correr atrás de nenhuma editora pra mim, eu não vou mesmo.

se as pessoas tiverem a delicadeza de fazer esse registro, que ele faça., eu não vou fazer.

 

mas o dolores, não. eu até disse isso pro paulo andré. e o dolores, é um cara de lá, ele é o único que registrou, é uma grana tão simbólica quando entra… ele voltou com o projeto… é uma grana … eu vi lá na minha conta, caiu 110 reais… as vezes 90… tudo grande de fora… chega uma súmula..

foi o dolores… tem uma coisa.

0400

eu tenho outros namoros que aconteceram assim na sinergia do acaso,

tem uma história foda de uma letra que eu fiz com o gog, que é assassinos sociais, que o proprio mano brown diz que considera uma das músicas que ele acha mais forte dentro do rap brasíleiro. e é minha, sacou?

essa música tem uma história que parece que era pra ser do gog, pq um amigo me apresentou ao gog, disse, olha só, vc tem que ouvir, e eu, caralho! é gringo?

que gringo! é da ceilândia…

eu ouvi uma música.. matemática na prática… vamos apagar nosso pensamento.. esqueci

 

eu ouvi aquilo e compus… fiquei muito instigado e compus…

mas não conhecia o gog, conhecia o X, do cambio negro.

quando a gente tocou com o radical sem dó, eles se aproximou da gente… …

rum dmc.. foi foda..

0600

aí, eu falo,  po, fiz essa letra de hiphop, deixei  com o  X  lá na ceilandia… aí, pássa o gog, o gog é que nem luiz gonzaga, ele pega… o X fala, olha essa letra, o bicho deixou pra mim, o Gog pegou a letra e leu, Porra, eu vou levar!

belo dia, eu tava na locadora de vídeo, o Gog liga, natinha, aconteceu isso e isso, só que ele pegou minha letra e dissolveu ela no meio do texto, a forma dele compor é diferente… uma riminha…

aí, ele dissolveu…

quando ele ligou, ele falou, o disco saiu… ele cantou.

caralho, era pra ser dele! eu fiz ouvindo ele! que parada escrota!

 

0740

a história de pedro malasarte…

da oficina.. tá certo.

tinha vários quadros,

eu participava… eu to confundindo a usfo… uma satélite fora de ordem.. eu misturo com essa história.

nessa eu me lembro que eu fazia um cabo 23 e meio..

mó cena de policiais e eu, mó cena de 23 e meio,

tinha vários quadros, miquéias fazia macunaima, que ele paria, tirou essa tampa, cara! uma solução doida!

quando ele nasceu, ele nasceu mímico!

ele nasceu daquele jeito assim!

aquele parto que ele teve ali, muito foda…

a gente acompanhou…

 

0930

eu participei, marechal boi de carro, um conto do ariano suassuna…

era um auto, do caralho..

eu fazia o manoel das batatas..

 

nesse espetácul, acontecia umas coisas muito legais, que era uma quebra de cena que rolava por minha causa.

provocavam um desconcerto, os diretores ficavam mordidos, mas é bom também… pq é na rua, nos lugares… e eu sempre vinha com uma tirada…

era o advogado do boi, e toda vez que eu me dirigia ao juiz…

o juiz era meio coringa, as vezes era o miltinho, as vezes o nilsonho…

mas quando eu me direcionava, todo caricato, de terno, testa lisa, aquela coisa estranho, que eu olhava, se ele não segurasse a onda… eu falava uns negócios assim, o público ria… ele respirava e seguia…

 

003

 

a finada coralia, a eliane, outra gordinha que eu esqueci o nome… não me recordo, mas eram as cantadeiras, era lindas, de branco, enfeitiçavam todo mundo…

cara e era muito legal, vc se mata, depois apresenta poucas vezes, e morre.

cara, e com a gente, não.

espetáculos que a gente ralava e apresentava muito… e envolvia músicos… colava paraibola, esbarrava em outras cidades com o LigaTripa, se ligava na mesma trupe,

 

0130

jose da silva vem depois com o presepada… era aquela coisa de jazz mesmo, participações especiais…

 

foi muito interessante, pq a gente queria retratar a cidade, aí a gente foi … uma experiencia muito foda.

até hoje eu passo ali por tras da igreja, onde era a casa da benção, o doriel, pequeno,

tinha cenas que tinha que ilustrar aquela situação, a gente fazia aquela pesquisa de campo, pra ilustrar… como é pra ser feito mesmo, certo, profissional, a gente colheu muito material pra compor.

e quando a cidade assistia, se encontrava… e

a gente levou essa peça pra recife, e todo mundo se identificou..

 

0300

taguatinga, na época a gente tinha o poder da arte e não sabia

como a gente era violento, ativistas, qualquer coisa a gente tava na rua,

quem era do grupo se pintava, fazia outro.

 

as ruas de lazer..

tanto que..

depois me distanciei, fiquei velho…

to achando que,

0400

porra, essa galera tem que tomar o poder que nem nós fizemos, e cade?

 

porra, agora quando to vindo pra cá, porra, o mercado sul, salvou taguatinga, em termos de pulsação, contemporaneidade, de pegar pra si o que vc vai respirar, olha, o mercado sul.

 

os artistas daqui, desenvolveram coisas mais pra fora, e ficou aquele fazio sertanejo, pistão sul sertanejo.

e agora não, olha que satisfação, tá desse jeito agora, esse lugar tão legal!

 

0500

uma pitada de sorte, foi um texto que nós montamos, infantil.

um espetáculo que esse grupo hpapanatas apresentou.

tinha mais, durante esse curso, a gente ficava meiuo que liberado pra assistir outros espetáculos a noite.

então, entrava pra ver…

e um dos espetáculos que nós vimos foi esse uma pitada de sorte,

e eram poucas pessoas, práticos,

e tinha esse palhçao, que era o Palha, e o Gico, que eram uma farsa…

o Palha que naõ era palhaço ainda e o Gico que não era Mágico ainda.

 

ainda mais o marcelo, que não usava máscara, era careca… era palhaço com a postura, caralho.

ele só pegava o nariz, e era o que saia dele que era o palhaço.

 

e a gente pegou e montou …

e eu peguei e guindei pra mim o Palha,

uma mala, dentro da mala um monte de cacareco,

animava festas, ganhei muito, mas não tinha dimensão… eu brincava!

ia pras festas, chegava exausto, o pessoal ficava feliz feliz, mas na hora de me pagar era uma merreca!

sorte deles que eu me empenhava muito, eu amava, eu sempre fiz com muito gosto, nem que fosse pegar coco,  pegava coco da melhor maneira possível.

 

0750

me lembro que eu… tinha grupo de animação de festas… tinha um grupo que apresentava em todo lugar… eu era desse grupo, eu me encontrava numa kombi…

a galera fez até uma música pra mim,

legal!

e ia pras nossas ações sociais, areal, associação dos moradores a gente ia muito,

sempre tava lá, nas manifestações…

eu era o palhaço capitão!

 

0840

e depois o Palha abriu espetáculo do Presepada, ia pra frente da empanada, enchia uma linguiça legal e ia pra trás…

 

e vc via os outros bonequeiros, era uma influencia muito grande, imagina, você ver paulo de tarso, no auge de sua … sarcasmo…

pezão,… era forte!

o babi! babi! cada um tinha sua graça!

o babi tinha uma peculiaridade que mistura… músico foda, compoe. fazia aquela coisa, alcolizada, chet baker,… fazia maravilhosamente bem…

 

1000

a cacau criou um palhaço, fizemos vários roles juntos… cacauzinha…

 

no presepada…

só bonecos… não bonecos complexos… não que o mamulengo não seja complexo…

mas manipulei só o mamulengo e cuidava da cenica de dentro… você tem que ser curinga,

nesse esquema, você tem que fazer todos..

tem um ponto do mamulengo,

é um buraquinho na tenda, que ali voce pesca alguns detalhes, pra preparar um tiro, se o bigodão…

e tb eu lembro que eu viajava… eu me empenhava em pesquisar..

po, eu lembro que eu fui pro ceará pegar uma herança… fiquei tres meses.

 

004

 

eu fiquei sufocado, pq po, eu sempre fui ambulante de rua, pq aqui vira.

lá eu não tinha como fazer escambo, não tinha como descolar grana.

 

mermão, andava na cidade, não… não compro não.

aí, eu fiquei esses 3 meses…

me perco na madrugada…

0100

eu ia de viagem, eu treinava… não , não brinca mais não… tem sim!

as vezes aparece aqui na feira..

isso é fulano … eu me metia não sei aonde!

ali é perigoso.. aí, descobria o mestre. e parava, de tentar mostrar… tava feito a missão.

 

magina, tava lá no ceará, e não…

crateus.

 

eu querendo voltar pra braśilia, meus colegas falando, NAtinho, o renato russo vai tocar hoje no .. caralho, eu ficava doido!

0220

foi numa dessas tardes que eu tava lá em crateús, que compensou tudo, que eu vi um show do patativa do assaré, pouca gente…

 

0250

BAbau

babau… o cara tá muito na gente!

o babau, eu tenho calor, eu tenho memória, eu tenho história, e meu coração sente a dor…

 

babau, várias!

ele tinha a família toda, que eles ficavam ali em águas lindas, eu ia muitas vezes, babau é muito escroto.

o cara tá aqui, ele vive compondo músicas… ele tem sempre uma música… e de repente, não termina, começa outra… ele volta em todas… uma perfeição…

sabe? é mágico!

nem precisa ir pras quadradas das águas perdidas pra encontrar elomar, babau é foda!

 

0430

ele tem uma vergonha… uma radicalidade, uma coisa dele, cheio de histórias,… né, que serve pro homem, vá lá meu filho, segue esse caminho… é duro!

 

005

eu também eu tinha essa inclinação, essa facilidade, pro palhaço, essa disposição.. não sei.

vontade gratuita de amor ao que tá fazendo…

 

a gente se encontrava, chico, nilsonho, miltinho, o que até hoje, sempre chegando pessoas, renovando… eu, foda que eu fiz parte desse DNA, a gente forjou lá na bigorna do inferno

 

0130

era carta, desenho, a gente praticava…

abriu um bar muito importante no recanto das emas, o bar ubuntu…

esse espaço lá, é muito verdadeiro, muito parecido com o que a gente era na época…

 

0220

eu cheguei e a galera desenhando..

era um bar, com várias atividades, e era comum a gente desenhava, e o chico tinha um traço bem dele mesmo.

todo mundo falava: eu tb quero fazer desse jeito.

nossos emails.. eram rápidos de se enviar… muito rapido a parada…

 

0300

eu sabia pq a gente se encontrava no Kareka pra tomar pinga com mel, e hoje o Kareka, ele pegou aquele lugar lá… é muito especial, mas o cara criou uma proposta muito interessante, vc ve que ele reconstituiu … umas casas de madeiras…

não sei se falhou..

 

agora, olha onde o Kareka tá, o lugar é um farol, eu que to bundão, de abstinencia… ali é cheio de locais pra fazer uma pauleira, gramado, ali, ele ganhou pra fazer um negócio 70, barracão, visual de época… pq ele era foda…

 

0450

nossa, aquele pinga com mel com o palito de picolé, nós com as bolsas de couro, e as vezes metida um luiz melodia que passava…

depois, taguatinga ficou meio… intrincado..

 

distraidamente, a gente tinha o poder,

a gente sabia dessa centralização cultural que tem o plano, mas já é.

foda-se, é a gente aqui.

esse negócio que os meninos fizeram no recanto, é foda, vai gente de todo canto,

vc tem que criar um espaço porto,

os etzinhos vem.

 

0600

ó aqui que legal, vc valorizando sua quebrada, os neguinho vem te assistir.

 

0640

estão fazendo um doc sobre mim!

ta avançado.

os meninos, tão fazendo por conta própria…

então, se sobrar algum… eles vão compartilhar…

 

006

 

a shirlei cantadeira! nossa!

arrasava!

as meninas arrasavam! cada uma com um visual

mas não tinha cantadeira negra, a gente era preconceituoso.

 

a carmem lucia mora aqui na c1,

a

 

o