Entrevista – Daniel Carvalho – Invenção Brasileira 30 anos

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Decupagem- Daniel

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Me apresentar? Nome todo? Eu sou Daniel Carvalho. Músico, rabequeiro e construtor de instrumentos.

 

 

38’’

a primeira manifestação, a primeira apresentação ligada a cultura popular que eu assisti foi justamente a apresentação do Carroça de Mamulengos, só que foi na Caixa Econômica Federal. Que aí foi nesse formato de teatro.

 

 

1’

Mais isso já me encantou de uma forma que aí eu tive que procurar saber onde eles tavam. O que era aquilo.

 

 

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falar mais alto, tá certo. Desculpa. Aham. Deixa a postura. Exercicio de teatro. manter o corpo.

 

 

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extra oficial cara. To sabendo, fila da puta. Agora to pensando tudo que eu falei.

 

 

 

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garantio que eu fui um dos poucos de ter culhao pra ir la e pa. de não conhecer nem ha tres dias.

 

 

 

30’’

tudo de uma vez, beleza. Eu estudava violão clássico, aí achava que seria violonista clássico. Aí um dia uma amiga me convidou pra assistir uma apresentação de um pessoal era Carroça de Mamulengo, eu não fazia ideia do que ia assistir lá. E veio aquilo, vários personagens, música, gente encenando e…

 

 

1’

difícil assim falar, mas quem assisti…e aqui em Brasília várias pessoas foram tocadas pelo mesmo grupo. Só sei que aquilo me mexeu assim, parecia que eu tinha encontrado um tesouro. Aí por sorte essa amiga mesmo minha que conhecia o pessoal, eles tavam hospedados acho que na casa dela. Aí nesse mesmo dia ela falou ‘óh terminar aqui o pessoal vai fazer uma festa, quer ir?’. Eu falei,

 

 

 

1’30’’

agora. Já fui, já dei carona pra quem eu podia e tal. Aí nessa festa, nesse encontro assim o que…só a família mesmo já dava mais de dez pessoas. E aí os amigos, e agregados que foram chegando, porque eles tem muitos amigos, muitas pessoas assim. Todas essas pessoas indo lá, procurando saber como é que eles tavam. Então nesse dia

 

 

2’

além deles, ainda conheci mais um monte de gente que…eu acho engraçado que durante os anos assim que eu fui trabalhando que eu me inseri na cultura popular aqui em Brasília, eu fui realmente conhecendo essas pessoas, durante os anos. Então nessa festa a experiência continuou, porque também teve mais música, mais arte, tava num lugar cheio de artista, cheio de gente, então pelo menos música, dança e diversão a gente vai ter.

 

 

2’30’’

Aí a partir desse dia, acho que eles ficaram aqui foi umas duas semanas, durante esse tempo todo o momento que eu tinha saía do trabalho e ia pra lá e tava à disposição pra ajudar. Fazia o que fosse, conviver ali, aprender, então. Foi muito interessante pra mim, e foi interessante porque foi justamente o meu primeiro semestre da Universidade.

 

 

3’

Aí eu digo que estragou a Universidade. A partir do segundo semestre já não fazia muito sentido, mas eu concluí. Uma coisa leva a outra. E nessa festa mesmo do Carroça eu conheci outras pessoas. Aí me convidaram pra assistir que seria uma festa de aniversário na casinha do seu estrelo,

 

 

2’30’’

era essa a informação que eu tinha. Festa de aniversário na Casinha do Seu Estrelo. Eu lembro que há muito tempo atrás eu saí uma vez na Funarte uma apresentação, na época o pessoal falava que era o maracatu do Seu Estrelo. Foi um negócio muito interessante, e depois na memória eu bisquei e lembrava dessa apresentação, eu fui assistir. Aí foi outro, outra martelada na cabeça. Outra coisa,

 

 

3’

o Carroça já tinha passado aí e já tinha ido embora, então cê fica meio assim ‘ah podia ter outras pessoas aqui.’ Aí assisti essa apresentação do Seu Estrelo e outra coisa, já fiquei assim. No que terminou eu já fui atrás de uma das pessoas que botava personagem, tava com a cara meio pintada. Aí eu falei ‘vocês tem algum ensaio aberto, alguma coisa?’ Aí falou ‘sim, todo sábado a tarde a gente tá aqui’.

 

 

3’30’’

Aí, só que ele falou ‘sábado que vem não tem porque a gente vai descansar, aí no outro começa’. Aí a partir daí eu comecei a ir no sábado lá e aí foi cinco anos seguidos, sem deixar de ir um sábado.

 

 

 

 

 

 

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bem…é…a experiência aqui já com o Seu Estrelo já me botou em contato com essas duas características que é muito importante na cultura popular que é ter uma tradição, você segue mesmo, você não ter algumas coisas. E a renovação que faz parte do dia a dia

 

 

30’’

todo mundo a gente…da mesma forma que a gente conta uma história pra alguém aqui a gente vai contar mais ali pra frente depois, a gente aumenta uma coisa, tira outra. Então nesse fazer também ne. E a gente aqui em Brasília, acho que ainda mais como a cidade é muito nova você tem poucas referências. As referências são de fora. Só que a partir desse momento o Seu Estrelo

 

 

1’

foi minha referência, o pessoal   já tinha criado um ritmo, já usava os instrumentos. Quando eu cheguei já tinha uns cinco, seis anos de grupo. Aí la eu recebi essa influencia, das influências que eles tinham. No caso era uma cultura mais vinda de Pernambuco baseada no Cavalo-Marinho.

 

 

1’30’’

Aí eu fui conhecer a rabeca. Então, vocÊ fica na pesquisa ne, você tem acesso a discos, a gravações, a vídeos. Só que mesmo sabendo que não é aquilo. Aquilo é uma gravação, um momento, tal…e no dia a dia do grupo com as pessoas que já conviveram lá, contando histórias. Então vem essa parte da cultura oral, você ouve várias histórias que o pessoal viveu

 

 

2’

você aprende…no caso cê vai tocar um tambor, você segura de tal forma, porque você vai tocar de tal jeito. É, as coisas tem uma referência mesmo e o seu estrelo falou bastante das referências que o ajudou, que que levou ele a ir. Então pra mim era tudo novo. Aí a gente faz…eu até falo que foi uma segunda adolescência na música.

 

 

2’30’’

A primeira é quando cê tem uns 14, 15 anos e ia tocar guitarra. Chegava da escola passava a tarde toda tirando as música tudo de ouvido. Coisa difícil, cê nem sabe se é difícil ou não, você gosta. Aí quando cê entra nesse universo, só que aí é muita coisa ne, tinha lá, pra tocar, vários instrumentos. Figura, várias figuras pra fazer. Construía

 

 

3’

as roupas, os bonecos, porque também tinha bonecos. Então várias áreas do conhecimento ali tudo vindo de uma vez aí é…foi quando mais uma vez eu deixei de fazer várias coisas porque você fica naquela gana, e você quer viver aquilo todo dia e fica fazendo. Mantém o trabalho, mantém os estudos pra não parar, mas o resto do tempo trabalhando lá, praticando mesmo.

 

 

3’30’’

Aí sempre que é possível nos encontros de cultura popular, essa parte é muito importante. Quando a gente tem os encontros, tem o intercâmbio aí vem um grupo de fora, aí você pode tirar dúvidas. É um momento que você pode viajar e tudo mais. Mas, claro que vivendo aquilo antes, praticando, é outra história. Quando você chega na fonte do local você já tem outros olhos.

 

 

4’

lembro. A primeira vez que eu lembro que vi um mamulengo foi o Presepada, foi o Chico Simões numa festa no Seu Estrêlo mesmo. Se eu vi quando era criança e tal não vou lembrar. Tanto que durante vários anos minha referência de mamulengo mesmo era a brincadeira do Chico. Até que agora, sim, vários anos depois de conhecer o Chico

 

 

4’30’’

eu trabalhei em outro mamulengo. Toquei num, que era um grupo da Casa Moringa, que tinha um espetáculo Veredas dos Mamulengos, da Fabí, mamulengueira. Que também acho que aprendeu com o Chico, mas agora trabalhando com o Chico, indo apresentar, viajar e festivais que eu fui ver outras, de onde veio o mamulengo. Vi outras linguagens. Essa era a referência.

 

 

 

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essa experiência com do mamulengo com Fabíola foi interessante. Porque a gente tem muita referência nordestina ne, Pernambuco, Natal no Rio Grande do Norte. Aí a Fabí ela queria trazer mais um clima da terra dela, do que ela era, e a verdade é que ela é mineira. Então desde aí a gente já começa que o rítmo é outro. Tem que escolher outras músicas,

 

 

30’’

no caso. Aí nesse formato do mamulengo a gente tinha duas pessoas cantando, uma com percussão e a outra, no caso eu, tocando viola caipira. Pra trazer essa coisa do interior. Então várias músicas, ponteado de viola e tal, a gente fez uma pesquisa com músicas de Minas mesmo. Um cd muito interessante foi aquele ‘O canto dos escravos’ que tem músicas lindas ali, ótimas. E eu sei que esse mamulengo

 

 

1’

já era diferente dos outros por causa disso, porque ele já buscava essa coisa muito interessante que o protagonista mesmo, que faz as aventuras e consegue, vence no final, é uma mulher, né. Que nos outros mamulengos é sempre, é o Benedito, tem o Baltazar, é o personagem masculino. Nesse caso, é uma personagem feminina que vem e salva todo mundo, o que é ótimo.

 

 

1’42’’

é…eu cheguei aqui o Casa Moringa já estava formado. É um coletivo de arte-educação, então além dos espetáculos desenvolvidos como artista, também tem toda a parte de ensino, de educação que a gente desenvolve. Na parte de teatro, na parte de

 

 

2’

teatro de bonecos, de música. Então cada um, além de ser artista, também trabalha com educação em alguma área. Quando eu cheguei já tava formado e fazia pouco tempo que o pessoal tinha formado o Espaço Cultural Mercado Sul. Que aí vários coletivos se juntaram pra manter um espaço cultural ali. Que aí anos depois terminou, voltou. E agora nós temos a Ocupação Cultural.

 

 

2’30’’

bem, nesse espaço, com a Casa Moringa a gente além de ensaiar os espetáculos, a gente desenvolveu algumas atividades de oficinas voltadas pra crianças. E eu desenvolvi durante dois anos, foi quando eu pensei e idealizei o projeto O.T.M.A que é Orquestra Tradicional de

 

 

3’

Música Alternativa. Que a ideia era isso juntar qualquer tipo de pessoa, com qualquer instrumento, pra gente fazer música junto. Só que baseado em toda a experiência que eu tive com a cultura popular. Que foi o que eu, é…ao mesmo tempo que eu estudava música na Universidade, eu entrei lá pra licenciatura em música, pra ser professor de música. Eu também voltei a aprender, e aprendi a aprender de outra forma com a minha experiência no

 

 

3’30

Seu Estrelo, na cultura popular. Então, fazia as pontes o tempo inteiro. E a OTMA veio dessa, veio da forma como eu aprendi, da forma como eu gostaria de aprender e também é um motivo pra eu poder juntar gente pra tocar comigo. E a medida que a gente junta o pessoal pra tocar junto, acontece.

 

 

4’

aí a rabeca…o Seu Estrelo, como ele tem uma inspiração dentro da brincadeira do Cavalo-Marinho, essa coisa da estrutura né, de você tocar pra chegar uma figura, pra ela sair. Eles são apadrinhados no início e tem uma ligação forte até hoje com certeza com a família Salu. E a família Salu têm uma história de rabeca.

 

 

4’30’’

Salustiano tocava, os filhos todos tocam, todos não. Tem o Dinda Salustiano, o Maciel Salu. Todos rabequeiros reconhecidos. Então lá no Seu Estrêlo o pessoal sempre acabava falando de rabeca, mas ninguém sabia tocar rabeca. Tinha passado uma menina lá, acho que da Polônia, que tocava violino aí parece que tocou algumas coisas e tal, mas não tinha aparecido ninguém ainda. O pessoal até comentava ‘ah, você estuda música,

 

 

5’

professor e tal, por que você não aprende a tocar?’ e eu falava ‘ah não’ pensava já tenho dificuldade pra tocar um instrumento. Mais aí as coisas vão mudando, né. E um dia eu cheguei lá e o Dinda ia fazer uma apresentação em Brasília, tava lá, aí justamente ensinando uma música com a amiga que tinha um violininho. Aí eu vi ele tocando aquilo, mais uma vez né, toca o coração. Eu só virei pro lado e falei ‘quem é que disse que tem uma rabeca pra me emprestar mesmo?’, porque tinham falado.

 

 

5’30’’

Aí arrumei a primeira rabeca, que é dessas rabeca que a gente brinca, que fala que é de turista. Afina mais ou menos, tem o som mais ou menos. Aí passei um mês ouvindo as gravações até eu conseguir, porque eu não tinha referência, não tinha nada nem na internet. Nessa época 2009, eu acho, 2010. Você botava Cavalo-Marinho no Google aparecia era um cavalo-marinho do mar. Hoje em dia você bota tem um monte de vídeo, se bobear tem até aula.

 

 

6’

Aí eu pô, rabeca né? Primeira coisa, qual é a afinação desse negócio? Pra ter uma referência, aí a gente começa a tentar achar a música de ouvido. Corda solta, a gente ouve a gravação tem uma corda que fica o tempo inteiro tocando ali e fala ‘pô ou o cara tem um dedo que fica apertando o tempo inteiro? Ou é a corda solta’. Então isso já era diferente. Eu lembro que eu demorei um mês até descobrir a afinação certa. Claro que aí na intuição pensei ‘deve seguir a do violino, talvez, de alguma forma

 

 

6’30’’

que é em quintas’. Aí consegui achar lá a afinação do disco que eu escutava. Aí depois fui escutar outro disco e a afinação já era outra. Que aí você começa a conhecer o universo da rabeca e diferencia ela do violino. Porque a rabeca ela principalmente acompanha o canto. Então ela vai ter diferentes afinações. Que nem a viola caipira acompanha o canto. E a gente sabe que tem afinações diferentes.  Então se uma pessoa tem a voz mais alta,

 

 

7’

vai cantar em sol, lá, então a gente afina a rabeca de um jeito. Se a pessoa tem a voz mais grave, então a gente vai afinar de outro. Essa foi a primeira dificuldade, vamos dizer assim. Porque se não tem um padrão cada gravação, cada pessoa, dependendo da sua voz, vai afinar a rabeca com ela. Aí foi isso…aí comecei a tocar essa rabeca. E a primeira música que eu escutei de rabeca e aprendi a tocar foi o Cavalo-Marinho. Que aí já foi um outro

 

 

7’30’’

absurdo assim, porque a primeira vez que eu ouvi o Cavalo-Marinho…Minha educação, meu interesse pela música começa desde criança com o rock’n roll, tocava guitarra. E aquilo dali é alucinante, a rabeca, dentro do cavalo marinho. Outra coisa aqui em Brasília não tinha ninguém pra tocar rabeca de cavalo-marinho. Tinha o pessoal do seu estrelo que tinham algumas músicas, algumas coisas, mas não praticavam o cavalo-marinho. Estavam ali

 

 

8’

desenvolvendo a brincadeira do seu estrelo. Aí ouve os discos, tenta tocar. Um músico lá do cavalo-marinho aí você tira umas dúvidas. Aí eu lembro que, acho que foi em 2010 talvez, na Universidade, acho que foi a primeira vez que eles tavam implementando uma matéria lá na parte da antropologia. Acho que quem tava encabeçando isso era o José Jorge.

 

 

8’30’’

Acho que ainda tem até essa matéria, que é ‘saberes tradicionais’, eu não lembro ao certo. Eu não participei dessa matéria, mas fiquei sabendo que ia vir um grupo de cavalo-marinho lá de Pernambuco. ‘Opa, vou lá, to lá mesmo na Universidade, queria saber’. Aí no primeiro dia eles tinham trazido um grupo, um banco que a gente diz. Que o banco de cavalo-marinho é como se fosse a orquestra, os músicos aí tem a rabeca, pandeiro,

 

9’

dois meleio e um ganzá. E eles trouxeram esse pessoal todo, além de outros pra botar figura e tal. Só que geralmente quando o pessoal faz uma oficina geral sobre uma manifestação popular, alguma coisa, o foco maior é no enredo, nos personagens. Aí a música sempre fica meio de lado. Aí se não tem também alguém que era interessado em rabeca, aí todo não tinha ninguém. O rabequeiro lá, o seu Luis

 

 

 

9’30’’

Paixão, ficava lá o dia todo óh, no primeiro dia eu saquei, ele ficava lá o dia todo sem ter muita coisa pra fazer. Chamavam ele pra mostrar a música e tal, e quando estavam falando de personagem ele ficava parado. Aí eu fui conversar com ele, falei que tava aprendendo a tocar e ele tinha levado duas rabecas pra vender. Aí já escolhi uma das rabecas, a que eu escolhi que tinha o som melhor. E aí eu já peguei ela e já combinei com ele, ‘então beleza seu Luis, olha essas coisas aí que eu sei’.

 

 

10’

Aí mostrei pra ele, aí ele corrigiu, ajeitou, tal e eu já combinei, ‘eu quero fazer umas aulas contigo. Como é que é? Você cobra? Quanto você cobra? Onde você tá hospedado? Posso ir lá?’ aí nessa época até consegui mais dois amigos que estavam interessados também. Aí esse foi meu primeiro contato com o seu Luiz Paixão. Contato assim mesmo, de escutar. Já tinha ouvido várias músicas do cd dele que é o ‘Pimenta com Pitu’,

 

 

10’30’’

gravação ótima. A primeira música do disco já é um baião de cavalo-marinho dele que até hoje eu peno pra tocar o negócio. Aí meu primeiro contato com ele, e eu digo que ele foi o meu mestre assim. Ele e outra pessoa que me ajudou muito das vezes que eu encontrei foi o Dinda Salu. Sempre assim muito ‘óh o que você quiser te ensino, te mostro’. Depois tive a oportunidade e fui pra Recife,

 

 

11’

fui na casa do seu Luis, aprendi a tocar mais. Vi os cavalos-marinhos mesmo, a coisa acontecendo de verdade. Aí você vê que você sabia era um negocinho de nada. Aí a rabeca veio dessa forma. Aí o cavalo-marinho aí depois até pra mim comunicar com as outras pessoas, que ninguém conhecia cavalo-marinho. Mais eu começo também a tocar uns forrós, a aprender. Ai a rabeca me fez ter que

 

 

11’30’’

começar a aprender a cantar, também. E uma coisa leva a outra e se você tiver disposição sempre tem trabalho.

 

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Bem, também tem um momento quando eu tava na escola, antes de ir pra universidade, acho que eu tava com uns 15 anos de idade. Eu fui levar uma guitarra pra consertar num lutier, lutier também quase não tinha em brasília. Um cara novo, lá no Cruzeiro. Aí chego lá e esse cara tinha sido meu primeiro professor de guitarra, que eu nunca mais tinha visto, ele e um outro camarada.

 

 

30’’

Aí a partir desse dia eu comecei a frequentar a oficina. Eu fiquei dos 15 até mais ou menos os 18 frequentando esse espaço, aprendendo. Só que a gente fazia guitarra e baixo. Aí eu pude tomar contato com várias técnicas de construção e pesquisei também construção de violão, não cheguei a construir, mas eu pesquisei e tal, porque era o instrumento que eu tocava. Então, tocando rabeca essa coisa, e sempre que você toca a pessoa ‘nossa isso é um violino?’ e eu não ‘isso é

 

 

1’

rabeca’ aí ‘onde é que tem rabeca?’ aí eu ‘ih rapaz, vai ter que ir lá no nordeste, tem as rabecas lá no Paraná’. E outra coisa, você comprar um instrumento que você nunca pegou na mão é muito difícil. Ele pode ser terrível mas se você pegou nele e gostou, vai funcionar.

 

 

1’30’’

Aí ficava essa coisa, como tinha trabalhado com isso, sempre tinha essa coisa do coração. Aí falei ‘vou aprender a construir esse negócio, tenho que aprender’. Até que eu comprei uma rabeca, só que ela veio de fora, veio de Pernambuco. Não tá preparada pro clima daqui, que aqui chegou a seca estala as madeiras tudo. Aí começou a ter essas coisas, dificuldades. Aí eu arrumava,

 

 

2’

dava um jeito. Aí pensei ‘não, eu tenho que fazer esse negócio aqui’. Aí comecei a pesquisar, até que eu tomei vergonha na cara e falei ‘vou fazer a primeira rabeca’. Tinha um facão e uma faquinha, fui fazendo demorou quatro meses pra ficar pronta. Mais assim tem sangue, tem pedaço de dedo, tem tudo lá dentro, tem pedaços de mim lá naquela rabeca. E foi

 

 

2’30’’

justamente na finalização dessa primeira rabeca, que eu recebi o convite pra trabalhar no mamulengo do Chico. Pra tocar mesmo, já tinha falado com ele várias vezes que podia, tocava, mas…aí dessa vez surgiu a oportunidade, juntou tudo e comecei a tocar com ele. Aí trabalhando com ele já, comentando que eu tava finalizando a rabeca, mas que eu queria mudar,

 

 

3’

porque eu não tinha oficina. Eu tava construindo num lugar que não tinha luz, era um deposito de um amigo aqui no Mercado Sul, que eu ajeitei, tirei várias coisas. Tinha um cantinho e uma luzinha assim dessas que ficam em escrivaninha. Então pra trabalhar de dia trabalhava enquanto tinha luz. Aí se eu quisesse trabalhar a noite que era terrível tinha só essa luzinha. Mas foi um espaço ótimo, até porque foi a primeira vez que eu tive um espaço mesmo.

 

 

3’30’’

Que eu podia guardar as coisas, deixar ali e fechar a porta, sair e chegar lá de novo pra trabalhar. Então conversando com o Chico ele me ofereceu que tinha um espaço aqui dentro do Invenção. Se eu não queria dividir com ele a sala dele. Era uma sala mas que ele queria voltar a transformar em oficina pros mamulengos. Dividi essa sala, aí pra mim, foi ótimo. Iluminado. A segunda rabeca já foi

 

 

4’

toda feita aqui. Aí nesse processo o Chico ‘ah, mais se tu faz rabeca tu faz boneco também né?’ Aí perguntou se eu não podia ajeitar uns bonecos pra ele e tal. Aí comecei várias coisas na verdade nesse ano. Porque eu vim pra cá, aí comecei a trabalhar com o Chico justamente no momento em que o pessoal vai começar a realizar um projeto aqui.

 

 

4’30’’

Eu vou falar o nome errado, eu sempre falo o nome errado. ‘A chegada do Mamulengo no reino do Cavalo-Marinho’. E pra mim foi lindo, porque tava com saudade, precisava tocar o cavalo-marinho, não tem gente. Então a gente começou os processos de ensaios, a tocar as músicas, eu fui

 

 

5’

relembrar várias músicas que eu tinha tirado antes. Fazia tempo que eu não tocava. Então juntou essas várias coisas, de montar o espetáculo, que vai ter a música de cavalo-marinho dentro dele. Voltar a estudar, voltar a tocar essa rabeca. E também eu já peguei a função de construir esses bonecos aí que vão ser os personagens. E também com as pesquisas do camarada Marcelo chegamos a 72.

 

 

5’37’’

Bem, aqui eu também to aprendendo, aprendendo com o Chico. A matéria-prima básica que a gente vai usar é o molungu, é uma madeira leve, fácil de trabalhar e parece que acho que a árvore cresce rápido, não tenho certeza. Aí tem bastante molungu aí, e

 

 

6’

basicamente é que nem aprender a tocar. Você começa copiando. Aliás, eu gosto de começar assim, peguei um boneco que achei interessante e to fazendo ele. Só que é isso, você tenta fazer, mais você sabe que não tem que ser daquele jeito. Aí o pouquinho que você já começa a trabalhar, aí você dá um traço assim, você vê que com a faca você

 

 

6’30’’

tira um pouquinho você já muda um pouco a feição. Aí você começa a brincar com aquilo. Aí daqui a pouco você que tava copiando já ficou esquecido. Eu finalizei olhei assim, e tinha nada a ver com o que eu tava copiando. A estrutura básica tinha a ver né. Que a gente começa basicamente botando o nariz. Se você faz o nariz aqui, acabou. O Benedito mesmo é o boneco mais incrível e mais expressivo

 

 

7’

e mais simples que tem porque é uma cabeça, tem um narizinho só e o nariz nem é grande, duas tachinha, aí você pinta de preto, acabou. É o melhor de todos. E o mamulengo, aprendendo e vendo a encenação você vê porque que ele é de madeira né. Que é a principal característica do mamulengo. Ele é esculpido na madeira. Porque tem que aguentar. Porque o mamulengo tá batendo um no outro. Aí você

 

 

 

 

7’30’’

pode ter varias teorias de onde vem o mamulengo, de onde vem o mamulengo. Mas você tem violência né, tem essa coisa de bater, luta não sei o que, então ele tem que resistir. Então bonecos com os traços muito finos, orelha fininho, nariz fininho, acho que guenta duas, três só e já já quebra. Aí você começa a desenvolver a estética dos seus bonecos em cima disso sabendo…Na verdade cada boneco vai ter uma função dentro da brincadeira aí

 

 

8’

você vai construir em cima disso. O pessoal que é mais da ação, pega e tal, então você não vai fazer tantos traços finos. O pessoal que não, você já pode dar mais detalhes.

 

 

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bem, assim pra Brasília lá, eu morava no Cruzeiro. Eu fui começar a vivenciar a cultura mesmo ativamente, fazendo, indo, assistindo nesse período aí que eu conheci o Seu Estrelo. Então era mais, eu estudei no Clube do Choro, estudei na Escola de Música. Então a gente ia assistir

 

 

30’’

apresentações musicais ali. Gostava de violão, principalmente de violão. Aí no Clube do Choro já tomei mais contato com uma linguagem mais popular e tudo mais. Mais minha vida girava em torno justamente de ir lá pro brinquedo que eu fazia parte. Mais num dado momento da minha vida eu saí de casa e vim morar em Taguatinga mesmo, porque em algum momento eu conheci aqui o

 

 

1’

Mercado Sul. Eu fui fazer…o primeiro momento que eu conheci o Mercado Sul, eu fui fazer uma viagem aí a gente veio ver um amigo aqui o Virgílio, que trabalha com papelão. Porque a gente tinha tido a ideia de fazer uns baús pro ônibus e tal, usando o papelão. E a gente veio conversar com ele pra ver se dava certo né. Aí comecei a vir aqui, conheci umas pessoas e saí pra viajar. Aí quando eu voltei de viagem,

 

 

1’30’’

passei dois dias na casa da minha mãe e vi que não dava mais certo. Você volta de viagem aí você tem escolha a fazer ne. Aí resolvi sair. E próximo desse período também eu comecei a me relacionar com uma pessoa que trabalhava aqui, vivia aqui. Então trabalho, moradia mais barata, mais pessoas, mais calor. Então vim pra cá. Aluguei uma casinha aqui

 

 

2’

cheia de goteira que na verdade não era nem uma casa, descobri depois que era a passagem do beco daqui pra lá que o cara construiu nesse meio. Ele tirou a passagem daqui pra lá e construiu essa casinha dentro. Nisso já fazem quase seis anos que eu to morando aqui. Morei em alguns lugares em Taguatinga e agora eu to morando em Samambaia, nessa região.

 

 

2’30’’

E aqui cara…é…a cultura aqui, o Mercado Sul é um espaço…é porque a referência que eu tenho do período que eu fiquei no Seu Estrelo, o Seu Estrelo acontece num espaço lá que tem outros centros culturais lá dentro. Tem antigamente quando eu frequentava lá tinha o Circo Rebote, na época o pessoal também tava fazendo a

 

 

3’

sede do seu Zé do Pife e as Juvelinas, ensaiavam lá. E nesse período também que eu participei do Seu Estrelo a gente construiu na casa um amigo lá o Circo Inventado, lá dentro. Então, já é uma vila, já um oásis, uma utopia dentro da cidade lá, esse espaço. Porque as pessoas vivem em comunidade ali. Aí tem as pessoas que não necessariamente vivem de arte, mas tão vivendo ali, então fazer parte do dia a

 

 

3’30’’

dia e tudo mais, então já tem essa vida em comunidade lá. Aí cheguei aqui no Mercado Sul e não é diferente né. Essa vida em comunidade aqui, só que, aqui tem a história maior. E tem essa efervescência cultural maior. Vários momentos o Mercado Sul e as experiencias aqui são referências pro trabalho lá. Mais aqui foi uma continuação,

 

 

4’

só que aí quando eu vim pra cá, eu já vim nessa perspectiva…antes eu trabalhava numa coisa que já acontecia era uma peça e aqui eu fui experimentar outras funções. De tá criando mais mesmo, de tá botando mais em prática as minhas ideias. Dividindo essa coisa de administrar, não administração, como que a gente?…que o espaço que a gente tinha era alugado, então o coletivo tinha que se

 

 

4’30’’

organizar pra manter aquilo. Então a primeira vez que eu começo também a quantificar melhor o nosso trabalho e entender o trabalho que a gente faz. Como é que a gente pode…aqui que eu comecei a trabalhar mesmo, como é que eu posso viver disso?. Porque o Seu Estrelo mesmo não movimentava. Eu sou professor de música aí me formei na universidade e tal. Sou especializado em aula pra criança, dou aula de violão pra crianças.

 

 

5’

Mais é aqui que eu comecei a ter essa outra perspectiva, de viver da cultura e tá transformando o espaço que a gente tá.

 

 

 

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Bem, é muito interessante que era toda decisão tomada lá a gente tinha que juntar os grupos todos, então são coletivos, pelo menos acho que quatro ou cinco coletivos. Imagina você decidir né, entre um monte de pessoas. Vindo do contexto que a gente tinha, claro um processo coletivo, mas a gente viu que tinha um líder, que a gente segue mais as

 

 

30’’

ideias. No caso aqui era a perspectiva de todo mundo chegar num acordo em comum no Espaço Cultural. Então, tudo era discutido. Se precisava reformar, contas e tal. As coisas sempre mudavam, gente saia, gente voltava. Um coletivo não podia participar mais, aí aumentava conta. Aí com a perspectiva de um espaço, aí você nossa tem que movimentar esse espaço agora. Aí nisso foi um período

 

 

1’

muito interessante, ter um lugar pra ensaiar, muito bom pros espetáculos que eu tava montando, principalmente com a Casa Moringa, que era o ‘Veredas dos Mamulengos’ que a gente fez a circulação com o espetáculo que é o ‘Mulheres Brincantes’. Foi todo, toda a montagem dele, todo o processo do ‘Mulheres Brincantes’  foi feito no Espaço Cultural Mercado Sul, nesse período.

 

 

1’30’’

E muito bom um espaço desse por que você tem acesso a várias linguagens diferentes. A gente tinha um coletivo que lidava com saúde, terapias, e tal, aulas de yoga, acupuntura, meditação, tinha gente que trabalhava com mamulengo, eu fazia uma oficina musical, tinha o pessoal que trabalhava com teatro, a galera que trabalhava com comida. Então, só de reunir esse

 

 

2’

povo cê já acaba aprendendo um pouquinho de cada se interessando e acaba que várias das nossas atividades, a gente faz, dá a atividade e a gente que consome essa atividade. Então, os amigos que dão aula de yoga, fazem comida, nmuito ão sei o que, é o pessoal que tá vindo na minha oficina e eu tô indo na oficina deles. Então nosso primeiro público somos nós aqui, convivemos. Então foi uma experiência

 

 

2’30’’

muito a até que num dado momento saíram vários coletivos e não dava mais pra manter todo mundo. Aí a gente teve que se desfazer, o aluguel aumentando. A gente tinha essa realidade aqui de que as lojas não são boas, aqui assim, as estruturas delas. Até pro Espaço começar, eu não tava nesse início, teve que fazer uma reforma enorme no espaço lá. Então houve todo um

 

 

3’

investimento, e a pessoa que era dona não tava investindo, mas tava cobrando caro.

 

 

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é…cara viola caipira foi uma doideira. Eu tinha visto uma entrevista com o Roberto Correia, é…que ele falou que ele estudava violão também, tal..aí um dia ele passou na loja e achou bonita a viola caipira.

E aí, comprou, foi tocar. Aí gostou mais que o violão, começou a estudar, que não sei o que, aquela coisa…Aí parece que ele se formou na

 

 

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universidade, aí um dia acho que foi pra Minas, pra cidade da família dele pensar sobre a vida. Se ele ia ser físico mesmo e tal. Aí ele levou a viola dele. Aí nesse dia parece que ele tocou viola caipira numa praça e parece que ele decidiu que ia tocar aquilo. Ia ser violeiro. Aí foi nessa. Aí parece que vários anos depois avó dele deu um livrim de músicas que era do avô dele, aí ele foi descobrir

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que a família dele é toda de violeiro só que o avô dele morreu, por causa de uma moda de viola que ele fez aí, parece que mataram ele, uma coisa assim. E o pai do Roberto Correia cresceu meio que sem pai e não teve ninguém pra ensinar viola caipira pra ele. Então a tradição meio que foi quebrada e ele voltou por instinto assim, e isso ficou na minha cabeça. Eu já tava fazendo essa transição, já tinha entendido que tocar violão clássico já não era a onda, não cabia. Eu tava tocando rabeca aí eu comecei a curtir

 

 

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outras coisas. Porque tem uns músicos que sempre me interessaram muito o Egberto Gismonti e o Hermeto Pascoal. Egberto por  muita influência do meu pai, meu pai sempre gostou. Ele tinha o bolachão do ‘Dança das Cabeças’, vivia falando do disco, eu escutava e tal. O Egberto num violão de dez cordas, Naná Vasconcelos e o Hermeto cara. O Hermeto que pra mim é o som mais brasileiro modernoso que existe, e vai existir assim.

 

 

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E eles são multi-instrumentistas né. Aí foi graças a minha experiência na cultura popular que eu tive no Seu Estrelo aí eu aprendi a tocar caracaxá, aprendi a tocar tambor, alfaia, aprendi a tocar gonguê, aí eu comecei, peguei a rabeca. Aí eu falei cara, ainda mais eu como professor de música é interessante que eu saiba tocar outros instrumentos né. E tem algumas informações, algumas coisas que depois que você pega uma coordenação motora fica mais fácil

 

 

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realmente você aprender outras coisas. E uma técnica bem simples é o que? É…cê toca uma música em vários instrumentos, então toca ‘Asa Branca’ no máximo de instrumentos que você puder tocar. Se você, se uma pessoa te ver tocando ‘Asa Branca’ em vários instrumentos ela vai falar que você é multi-instrumentista. Aí se você quiser ir além, aprender outras músicas aí beleza. Mas aí a viola foi uma coisa que eu ia viajar, ia fazer uma viagem que ia ser pelo menos alguns

 

 

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meses, a gente não ia ter data pra voltar. Que a ideia era, montei um grupo com oito pessoas e a gente ia viajar pelo Brasil e passar pela América Latina onde desse, trabalhando na rua, ,fazendo espetáculo de rua. E eu ia ser o músico. Aí eu pensei “ta, vou tocar na rua” tem a rabeca, tem um som bom a rabeca pra rua, mas o violão…que eu tinha um violão de corda de nylon…eu falei assim “não, o violão..e outra né”. Aí resolvi testar, passei numa

 

 

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loja, eu tinha uma grana guardada, passei resolvi comprar uma viola. Falei “eu vou tocar esse negócio”. Aí a viola caipira aprendi tocando viajando. Só  que como a gente tem contato né, a gente de vez em quando acaba ouvindo uma moda de viola…eu não tenho contato diretamente com a música caipira, mais a gente, ainda mais tando aqui em Brasília, tamo no interior do Goiás. Então, a gente escuta as modas, já acostumei. A gente também, referência também dos violeiros nordestinos, né? do

 

 

 

 

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repente e tal. Então você pega aquele instrumento você já sente que tem algum legado, alguma coisa assim, tem uma…ainda mais a gente que trabalha com música tá mais sensível, ( ?) coisa assim. Então, você tem uma lembrança de sons de viola que você já ouviu. Aí foi nesse período viajando, a medida que tinha que aprender uma música, que tinha que fazer alguma coisa e tal. Aí um camarada vai fazer uma cena aí demorou, aí cê sabe, cê trabalha em rua aí tem que passar chapéu.

 

 

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Aí o cara tá fazendo ali há meia hora, deu duas pessoas. Aí você continua fazendo a música, aí cê tem que inventar. Aí começa a vir e trazer. Depois quando eu voltei eu comprei o método do Roberto Correia, comecei a estudar uma coisa ou outra e tal. Mais a viola caipira veio daí assim. Já a rabeca que me mostrou…a rabeca e os instrumentos de percussão lá no Seu Estrelo que me mostraram que eu podia aprender outros instrumentos

 

 

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e…não precisa ser o fodão, o concertista daquele instrumento. Mas você conseguir se expressar nele é…é ótimo. Ainda mais criando música…aí co co com a Casa Moringa, fazendo espetáculo e…dos mamulengos, e os espetáculos de teatro tal, então, pra fazer trilha sonora, que nesses eu trabalhei fazendo trilha sonora, você contar com instrumentos diferentes né, são timbres diferentes, formas de

 

 

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tocar diferentes. Então isso passou a ser na verdade uma busca assim. Que tocar outros instrumentos só agrega e só faz você tocar melhor o que você já toca também. Aí a rabeca me mostrou o caminho e a viola meio que falou “é isso aí”. Ta indo. (Risos)

 

 

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eu tive uma impressão assim bem forte que é o seguinte. A forma como eu vinha aprendendo música porque foi na escola, Escola de Música e universidade, eu tinha a sensação que a gente, de tá sempre me preparando pra chegar num nível tal pra eu poder apresentar pras pessoas. Aí a gente nunca chega lá, fica naquela coisa ne, tal não sei o que…aí quando eu entrei pro Seu Estrelo

 

 

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foi muito engraçado eu tava vendo os ensaios, aí um belo dia eu resolvi pedir assim, depois de ter ido lá…porque pela educação que eu recebi, eu sou incapaz de chegar num lugar e já sair querendo fazer as coisas né. Aí eu aprendi com a minha mãe e com meu pai que cê tem que ir e ficar observando até que alguém te chame pra junto. Aí eu fiz isso. Aí um dia eu tive coragem de “tcho pegar essa alfaia aí e ver o peso e tal” aí o camarada fala “não, vem tocar” e eu “não, não sei” e ele “não, vem tocar? Você tá olhando já faz um tempo, alguma coisa cê sabe fazer.”

 

 

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Foi que eu comecei, aí de sde então, a partir desse dia comecei a tocar e tal, e no momento que acharam que eu podia já me chamaram pra fazer parte de uma apresentação. Então eu percebi, já foi esse choque básico, na…estudando violão clássico eu me preparava pra chegar num lugar apresentar, enquanto ali, o que eu podia fazer eu já tava me inserindo. “Ah, você pode,

 

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cê não tá tocando e tal, mas no dia se você puder ajudar nos figurinos tal, trocar de roupa, a galera” cê já tá lá. Aí você tem um ritmo num instrumento que é mais simples, cê já consegue manter, já toca aí. Então a diferença básica foi essa, já aprender fazendo. Já tendo esses, é dificil assim porque…ainda mais no estudo do violão clássico, a gente tem muito essas

 

 

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referências, metodologias, tudo, é europeu assim. Método…